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Mercado aponta espaço para Selic abaixo de 4%

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Considerado quase como um cenário inimaginável há alguns anos, a queda da taxa básica de juros para menos de 4% agora tem uma chance de se concretizar em 2020. Os economistas que mais acertam suas projeções para a Selic na pesquisa Focus – os chamados Top 5 – veem espaço para que o nível seja testado em algum momento do ano que vem caso a atividade tropece mais uma vez, embora este não seja o cenário base desses profissionais.


 


“Se olharmos o espaço para a inflação, existe, sim, a possibilidade da Selic cair a níveis mais baixos que 4% no próximo ano”, diz o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall. Ele estima que o IPCA deve ficar em 3,4% em 2019 e 3,7% no ano seguinte – resultados bem inferiores à meta perseguida pelo Banco Central, de 4,25% e 4%, respectivamente.


 


O consenso entre os analistas do Top 5 é de queda da Selic para 4,5% em 2019, com novas baixas no primeiro trimestre de 2020, resultando numa taxa de 4%. Assim, uma normalização da política monetária, com alta de juros, viria apenas em 2021. Os profissionais apontam, contudo, que o risco maior para o cenário base é de queda mais intensa da Selic no caso de frustração com atividade.


 


“Quando eu olho para frente, minha hipótese é que o ciclo de cortes vai parar em 4%, mas deveria ir um pouco além”, diz o economista-chefe da gestora Vinland Capital, Aurelio Bicalho. Para ele, o BC deveria levar a Selic para 3,5% em março do ano que vem, tendo em vista que, num contexto de ampla capacidade ociosa, há espaço para a autarquia estimular o crescimento dentro de seu objetivo de levar a inflação para a meta.


 


Ainda assim, Bicalho não acha “nenhum absurdo” caso o BC opte por parar o ciclo de corte de juros com Selic em 4%. “Eu não coloco Selic abaixo de 4% como cenário base porque o atual ciclo de cortes já trouxe a taxa para níveis historicamente baixos. Existem incertezas sobre impacto na economia e o cenário internacional também traz dúvidas. Por isso o BC pode ser mais conservador”, diz.


 


Hoje o Copom do BC anuncia sua decisão de juros sob ampla expectativa de corte da Selic, de 5,5% para 5%. O anúncio virá poucas horas após a decisão do Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos. À espera dos resultados, o Ibovespa fechou ontem em baixa de 0,58%, aos 107.556 pontos, enquanto o dólar subiu 0,26%, aos R$ 4,0026.


A comunicação do BC e novos indicadores econômicos devem servir de base para possíveis revisões de estimativas para a Selic. Essa é a avaliação do economista-chefe da consultoria Parallaxis, Rafael Leão, que não descarta os cenários de Selic abaixo de 4% no ano que vem, mas aguarda as informações para calibrar sua projeção de Selic a 4,5% no fim de 2019 e 2020.


 


“Como nossa expectativa é de crescimento do PIB entre 1,8% e 2% no ano que vem, uma aceleração significativa ante 2019, ainda acredito que o limite para queda da Selic é em 4%”, explica Leão. “Mas se começar a baixar a expectativa de crescimento, se houver frustração como nos últimos anos, o juro pode ficar mais baixo”, aponta.


 


Ruídos que atrapalhem a retomada da atividade econômica podem resultar não somente em Selic abaixo de 4% como também em um juro real negativo no Brasil, avalia o economista-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira. “No cenário base que eu tenho, não vejo essa possibilidade porque avalio que deve haver alguma aceleração da economia. Mas, se esse cenário estiver incorreto e houver algum contratempo, o BC pode ousar mais na questão dos juros no momento em que ele observa as expectativas de inflação ancoradas.”


 


Para o economista, o BC já está colocando os juros bem abaixo do que se imaginava há seis ou 12 meses, levando o consenso do mercado a projetar juro de 4,50% no fim deste ano, com grande parte dos agentes projetando ao menos manutenção das taxas ao longo de 2020. “Se a economia estiver acelerando, a inflação nos preços livres também vai começar a ganhar força, mas isso pode aparecer somente em 2021 e bem devagarinho”, afirma Oliveira.


 


Vale dizer, ainda, que cada vez mais analistas têm projetado que o atual ciclo de afrouxamento se estenderá para 2020. Ontem, o Bank of America (BofA) no Brasil cortou sua estimativa para a Selic no fim deste ano de 4,75% para 4,50% e passou a projetar o juro básico a 4% em dezembro de 2020. Para o chefe de economia e estratégia do banco, David Beker, a possibilidade da Selic ser reduzida a menos de 4% dependeria da pressão da atividade na inflação e, também, dos rumos da economia global.


 


“Estamos vendo o juro a 4% porque enxergamos que há folga na inflação para o BC cumprir as metas, já que os índices de preços estão bastante ancorados nas metas”, diz Beker. “O BC está monitorando. Se o juro chegar no 4% e a atividade estiver dando sinais mais efetivos, ele deve administrar com mais cautela a política monetária.”