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Despesas fixas x salário variável

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Leonardo (nome fictício) trabalha com vendas. A parcela fixa do seu salário é pequena, mas ele confia que, com o valor adicional das comissões de vendas, sua remuneração será suficiente para dar conta das despesas fixas do orçamento familiar.




Não foram poucas às vezes em que pensou como seria bom ter outro tipo de emprego, com salário fixo, garantido mês sim, outro também. Mas ele gosta do que faz, tem talento para trabalhar com vendas, e a cada mês “gordo’, repleto de comissões que gratificam a produção do mês, se sente recompensado e acha que vale a pena manter a profissão atual.




Seus clientes, comerciantes de pequeno e médio porte, estão comprando menos; alguns chegam a cancelar pedidos para enfrentar a queda na demanda do consumidor final. Compram menos porque vendem menos. Assim, o círculo vicioso impacta as finanças de Leonardo, bem como as de muita gente.




O maior problema é fechar a conta todos os meses. Essa tarefa, desafiadora para os que ganham salário fixo, se transforma em enorme desafio para as pessoas como Leonardo, que ganham muito em alguns meses e nada em outros.




Sua remuneração mensal média é de cerca de R$ 9.000 (salário fictício), suficiente para bancar as despesas do orçamento familiar. Entretanto, como o fluxo dessa renda não é estável, invariavelmente tem recorrido ao limite do cheque especial para pagar as contas do mês. Há meses em que o volume de comissões é bem generoso e ele acaba se empolgando com os gastos. O mês passado, por exemplo, foi um mês polpudo que gerou renda de R$ 20 mil. A família precisava de um carro novo e eles acharam a entrada de caixa muito oportuna. Era a quantia que precisavam para completar o valor e trocar o carro por um mais novo.




Dois meses depois a família se complicou porque a entrada de caixa foi praticamente nula, e eles não estavam preparados para essa situação de escassez. E como boa parte da reserva financeira do casal havia sido destinada à compra do carro, recorreram, mais uma vez, ao cheque especial, solução que além de inadequada, agrava a situação em razão dos juros que ampliam os compromissos.




Profissionais com remuneração variável, como Leonardo, precisam criar uma conta reserva para prover o saldo necessário e completar a renda dos meses com entrada de caixa inferior à necessária. Essa conta receberá o excedente dos meses cuja entrada de caixa for superior a R$ 9.000. Assim, haverá um colchão de reserva para assegurar que o orçamento familiar poderá ser custeado sem a necessidade de recorrer a linhas de crédito.




Em janeiro, suponha remuneração de R$ 15 mil. Desse montante, R$ 9.000 serão usados para as despesas fixas e o excedente, R$ 6.000, será aplicado na conta reserva. Em fevereiro, a renda foi de apenas R$ 5.000, e os R$ 4.000 necessários para fechar o caixa foram resgatados da conta reserva. E assim sucessivamente.




O saldo dessa conta reserva é intocável e não deve ser considerado como disponível para aproveitar ofertas imperdíveis, impulsos de consumo e despesas não planejadas. Ele é essencial para complementar à renda familiar.




O desafio de Leonardo é acumular, ao menos, três meses de despesas (R$ 27 mil) nessa conta reserva, investindo em títulos de taxa pós-fixada, com liquidez diária, ao menor custo possível. Investir em Tesouro Selic, via Tesouro Direto, é altamente recomendável para esse caso.




Assim que atingir esse objetivo, deve iniciar outra aplicação financeira com missão diferente da primeira, a de permitir realizar os projetos da família, como viagens de férias e, porque não, alguns merecidos excessos de vez em quando.




Fonte: Folha de São Paulo –  Marcia Dessen