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Conheça 10 mitos e verdades sobre a crise da água

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Desde o ano passado, a falta de chuvas afeta os hábitos de consumidores e empresas nas metrópoles brasileiras. Uma seca mais prolongada, no entanto, pode gerar consequências mais severas, capazes de impactar não só a economia, como também a saúde pública e o meio ambiente.


 


Dentre as crenças que rondam a crise hídrica, comenta-se que parte da população urbana pode migrar para áreas menos habitadas em um cenário mais extremo. Os mais radicais dão conta de que novas epidemias vão se espalhar rapidamente e provocar uma calamidade pública ocasionada pela falta de água.


 


Especialistas ouvidos pelo G1 alertam que parte destas previsões não tem fundamento, enquanto outras são possíveis e até mesmo prováveis, caso os reservatórios de água não recuperem seus antigos níveis, especialmente na região Sudeste, a mais afetada. Eles também divergem em alguns pontos.


 


Veja a seguir o que pensam sobre o futuro da crise da água a especialista em gestão de recursos hídricos e coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, e o professor de hidrologia e gestão de recursos ambientais da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo:


 


1. A seca prolongada pode causar um êxodo urbano


 


Verdade


 


Malu Ribeiro: “Um êxodo ocasionado pela seca é factível. As Nações Unidas e entidades como a SOS Mata Atlântica vêm fazendo este alerta há bastante tempo. Várias crises de falta de água já obrigaram populações e atividades econômicas a migrar para outras áreas. Em alguns setores isso já é perceptível. Indústrias de bebidas, como cervejarias e fabricantes de refrigerantes, já abriram novas fabricas em regiões mais afastadas dos grandes centros. O governo de São Paulo encomendou um estudo prevendo que fábricas nas regiões de Campinas, Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo passariam a migrar para outros estados por conta da falta de água. Na Grande São Paulo, isso é menos perceptível por ser um polo atrativo de pessoas”.


 


Mito


 


Antonio Carlos Zuffo: “Acho exagero dizer que a seca vai ocasionar um êxodo de pessoas. Pode haver a diminuição na média das chuvas pelas próximas duas ou três décadas, como ocorreu na seca prolongada entre 1936 e 1969, depois tende a normalizar. Na década de 1970, as chuvas se normalizaram e essa média subiu em torno de 30%. Ela tende a cair de novo, só não se sabe quanto, mas não a ponto de causar uma migração populacional”.


 


2. Se voltar a chover como antes, a crise acaba


 


Mito


 


Malu Ribeiro: “Esse quadro só pode ser revertido com medidas primordiais, com o fim de todos os desmatamentos. Isso não é impossível, porque há uma sobra de terras já desmatadas e subaproveitadas. Também seria preciso usar o solo urbano de forma mais adequada. Não se pode mais achar que a água virá de áreas distantes. As cidades precisam ter mananciais urbanos utilizáveis. É preciso investir em saneamento. Isso vai criar condições para recuperar as reservas esgotadas e ter sustentabilidade. Precisaríamos no mínimo 5 anos de verões chuvosos pra que esses mananciais se reabasteçam na capacidade plena. Falta muito para recuperar”.


 


Antonio Carlos Zuffo – “Seria preciso chover entre 35% e 60% acima da média (entre 500 e 1000 milímetros cúbicos) durante todo o ano para recuperar os reservatórios e reverter a situação atual. No mês de abril, choveu 50% acima da média na região do sistema Cantareira e quase 20% acima da média no Alto Tietê, bem acima do início do ano. O problema é melhorar ou manter esse nível até o fim do ano”.


 


3. Os poços artesianos podem secar nas grandes cidades


 


Verdade


 


Malu Ribeiro: “As reservas subterrâneas não são inesgotáveis e dependem de áreas verdes. Os aquíferos não têm florestas para se reabastecer, o solo é contaminado e há risco de os poços não serem próprios para consumo. Cidades que só usam água subterrânea, como Recife (PE) e São José do Rio Preto (SP), têm problemas de rebaixamento do solo pela super exploração dos aquíferos. Em São Paulo, isso levaria a sérios problemas. Inclusive foram proibidas novas captações em algumas regiões. O ideal é que as pessoas façam poços com empresas autorizadas pra não captar água contaminada ou criar problemas mais sérios”.


 


Antonio Carlos Zuffo: “Os poços não têm recarga. A vazão pode ser mantida se eles vierem de vazamentos da rede da Sabesp, mas em um rodízio de cinco dias, por exemplo, eles podem diminuir drasticamente. Se houver uma recarga artificial constante, o fluxo é mantido, mas na falta de água isso cai rapidamente. A maior parte dos poços tem um volume pequeno de água porque corre entre as fraturas de rochas. Também é preciso fazer uma análise química e biológica para saber se a água é aproveitável e potável, e se serve para lavar louça, fazer a rega de jardim, descargas em banheiros ou lavar calçadas. Essa água em tese não é própria para cozinhar alimentos nem para a ingestão”.


 


4. A estiagem pode causar um apagão


 


Verdade


 


Malu Ribeiro: “Nossa principal matriz energética vem das hidrelétricas, então podemos dizer que o acionamento das usinas termelétricas já evitou um apagão e supriu o déficit de água no Sudeste. Mas isso tem um impacto financeiro e ambiental muito grande. A queda no consumo de energia, com a desaceleração da economia, também ajudou a evitar a falta de eletricidade”.


 


Antonio Carlos Zuffo: “Esse risco existe, mas como a atividade econômica diminuiu, o consumo ficou menor e favoreceu esse cenário. Também o aumento das chuvas no último mês ajudou a afastar o risco de um racionamento de energia. Mas essa possibilidade ainda é real porque os níveis dos reservatórios ainda estão muito baixos”.


5. Consumir água do mar é uma alternativa possível


 


Meia verdade


 


Malu Ribeiro: “O uso da água do mar (dessalinização) não é viável neste momento pelo alto custo e pela quantidade de rios de água doce inutilizável que temos. Fica mais barato despoluir os rios indisponíveis por baixa qualidade do que investir na captação da água do mar. No Sudeste, esta solução não é viável. Mas pra alguns polos industriais que não querem sair de São Paulo por questão de logística e de mercado, essa pode ser uma alternativa. Para o setor público, a dessalinização seria um atestado de falência pelo custo, mas o setor privado poderia investir nessa tecnologia para se beneficiar”.


 


Antonio Carlos Zuffo: “Depende da cidade. Em São Paulo, a tecnologia seria inviável pelo custo. Sairia muito caro bombear a água do mar para o alto da serra. Mas em cidades litorâneas como Rio de Janeiro e muitas outras da costa brasileira seria uma boa solução, como acontece em países como Espanha e Israel”. 


 


(Fonte: G1)