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Novas tecnologias financeiras vão gerar um triplo dividendo para a América Latina

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A nova onda de inovações tecnológicas que impactam as finanças, as fintechs, tem o potencial de trazer um triplo dividendo positivo para a América Latina. Pode aumentar a competição no setor financeiro e reduzir custos de transação e dos serviços, além de promover a inclusão financeira e o crescimento econômico.

 


Para que esse potencial seja plenamente aproveitado, no entanto, é necessário buscar uma adequação das estruturas nacionais de regulamentação e vigilância financeira que torne possível gerenciar os riscos que acompanham essas tecnologias.

 


Recentemente, o FMI e o BID mostraram quão longo ainda é o caminho a percorrer na região quando se trata de acesso, profundidade e eficiência nas finanças.

 


Existe uma variação significativa entre países, com Brasil, Barbados e Chile como casos relativamente mais avançados, seguidos de perto por Colômbia, Bahamas, México e Peru. Já Nicarágua, Haiti e Paraguai ficam atrás de países de baixa renda em outras partes do mundo.

 


No entanto, todos eles apresentam algum tipo de deficiência: baixos índices de crédito como proporção do PIB, altas taxas cobradas por serviços, alta dependência de fontes financeiras não tradicionais ou grandes parcelas não bancarizadas da população.

 


As novas tecnologias usadas nas finanças podem ajudar a mudar isso.

 


Tomemos, por exemplo, as oportunidades abertas pelos serviços bancários e de pagamento por telefone celular. Agora, as operadoras podem fornecer serviços de tipo bancário e as plataformas de comércio eletrônico podem oferecer serviços de pagamento por telefonia móvel.

 


Em áreas remotas, bancos podem nomear agentes certificados para alcançar clientes não bancários por meio de dispositivos móveis.

 


A experiência com os serviços bancários por telefonia móvel iniciados pela M-Pesa no Quênia em 2007 serve de modelo. O dinheiro pode ser transferido através de mensagens de telefone celular: os destinatários sacam dinheiro por meio de agentes locais certificados. Em dez anos, quase 30 milhões de usuários em dez países passaram a ter atendimento.

 


O amplo uso de serviços de pagamento por celular na China é, obviamente, outro exemplo notável. Usar  serviços bancários por celular para enviar dinheiro além  das fronteiras pode muito bem ser uma maneira de reduzir os custos de remessas para a América Latina.

 


Remessas de emigrantes correspondem a 1,5% do PIB da região, ultrapassando até 15% em casos como El Salvador, Haiti, Honduras e Jamaica. Apesar da alta participação da região no total de remessas de emigrantes no mundo, seu uso de telefonia móvel para enviar e receber remessas é relativamente baixo, enquanto predominam bancos e operadores de transferência de dinheiro tradicionais e caros.

 


Estes cobram cerca de 6% dos valores pagos pelos remetentes, enquanto as remessas de dinheiro por celular na África subsaariana custam 3%, segundo o relatório do FMI.

 


A internet também abriu novas possibilidades de intermediação financeira. Por exemplo, as empresas de tecnologia agora podem competir ou colaborar com instituições financeiras tradicionais para oferecer serviços bancários e de seguros on-line.


 


Da mesma forma, as plataformas da internet facilitaram atividades de financiamento, como o crowdfunding, empréstimos entre pares (P2P) e financiamento ao consumidor. A experiência da China com o financiamento pela internet ilustra seu potencial – bem como os riscos associados em casos de expansão excessiva.

 


A entrada de novos operadores não bancários e de plataformas como novos agentes significa mais concorrência e prestação de serviços mais adaptados a clientes sem atendimento bancário. Os reguladores financeiros precisam facilitar isso.

 


No Brasil, por exemplo, o Banco Central está prestes a colocar em vigor medidas para estender o uso dos caixas eletrônicos existentes para clientes de startups de tecnologia financeira, bancos digitais e bancos de pequeno e médio porte.

 


As redes tradicionais de agências físicas têm perdido espaço para os caixas eletrônicos e, dado que a alta informalidade e a baixa inclusão financeira levam a uma forte adesão a pagamentos em espécie no país, o acesso aos caixas deve ajudar novos bancos online e os serviços via fintechs a enfrentarem o desafio da distribuição de dinheiro.

 


Fonte: Folha de São Paulo